06/05/2016

Tristeza e Decepção



Irmãos rubro-negros, 

foi com estupefação, revolta e muita indignação que a Nação Rubro-Negra recebeu a notícia de que o presidente Eduardo Bandeira de Mello será o chefe da delegação da CBF na Copa América deste ano, que será realizada nos Estados Unidos.

Por quê, presidente? Sinceramente, será que eventual dividendo político justifica sair de braços dados com a CBF, com o Marco Polo del Nero?

E as lamentáveis declarações dadas?

Vamos a elas.

Sobre o conchavo em si, essas foram as palavras do presidente Eduardo Bandeira de Mello:

"Não vejo conflito com o que penso. Entendi como uma premiação. O presidente Marco Polo Del Nero mesmo citou isso. Ele disse que era um reconhecimento à minha atuação como dirigente e pelo que o Flamengo defende em termos de melhorias, modernidade e transparência."

Surpreendentemente, em total desacordo com tudo o que a sua gestão representa e em manifesta contradição com importantes declarações dadas recentemente, assim se expressou o presidente Eduardo Bandeira de Mello sobre a CBF:

"Existe o movimento na CBF neste sentido também, com grupos de trabalho, esforço pela transparência e boa governança."

Quando indagado acerca da situação jurídica de Marco Polo del Nero, investigado por corrupção nos EUA, Eduardo Bandeira de Mello disse o seguinte:

"Acho que isso seria injustiça tanto em relação a mim quanto a ele (Del Nero). Sempre me posicionei a favor da apuração rigorosa dos fatos e da transparência total. Com certeza ele está trabalhando na sua defesa, e os fatos vão dizer o que é verdade."

Quer dizer que a CBF agora tem um movimento "com grupos de trabalho, esforço pela transparência e boa governança"?

A mesma CBF, que, menos de três meses atrás, em nota oficial, o Flamengo qualificou como "arbitrária", inclinada a "aspectos políticos obscuros", que "constrangeu o clube de maior torcida do Brasil" e que prestou um "desserviço ao torcedor", agora faz um esforço pela "transparência e boa governança"?

É isso mesmo, presidente?

O senhor não acha que mudou muito rápido de opinião, justamente no momento em que recebe convite tão tentador?

Pois bem, irmãos flamengos, sem rodeios: 

ou o presidente Eduardo Bandeira perdeu de vez o siso, o que seria uma conclusão até natural diante das absurdas análises feitas por ele sobre o futebol do clube; 

ou o poder, a vaidade e o egocentrismo realmente corrompem aqueles que alçam posto tão alto na hierarquia do gigante Flamengo;

ou ele sempre foi assim, ególatra, presunçoso, individualista, e soube disfarçar isso muito bem.

De todo modo, uma coisa é certa: o ato e as declarações do presidente Eduardo Bandeira de Mello são uma ofensa ao Clube de Regatas do Flamengo e à Nação Rubro-Negra.

Compreendo perfeitamente que é preciso fazer política no futebol brasileiro e que o isolamento do clube estava nos prejudicando.

Mas daí a num momento de grave crise no futebol do Flamengo aceitar ser chefe de delegação de uma instituição deformada moralmente como a CBF, vai uma distância enorme.

Ao se alinhar à CBF, ao bajular, adular e relativizar a pessoa de Marco Polo del Nero e os delitos que lhe são imputados nos EUA, o presidente Eduardo Bandeira de Mello pratica o mais nefasto ato contra o seu próprio mandato. Uma autosabotagem inacreditável.

O senhor, presidente Eduardo Bandeira de Mello, não deveria jamais prestar-se a esse papel servil, canhestro, de emprestar a credibilidade arduamente conquistada pelo Flamengo, que corta até hoje a própria carne, para respaldar uma instituição tão nociva ao futebol brasileiro como a CBF.

Aliás, sobre a credibilidade alcançada pelo Flamengo, mediante muita luta e profundos sacrifícios, vale lembrar, presidente Eduardo Bandeira de Mello, que o senhor sequer estava presente quando todo esse processo foi iniciado.

O senhor apenas tornou-se presidente do Flamengo em razão da impugnação à candidatura do Wallim Vasconcelos.

Digo isso para afastar de pronto qualquer tentativa de atribuírem-lhe os méritos de tão sofrida vitória.

Essa vitória, a do resgate da credibilidade institucional do Flamengo, pertence a um grupo amplo, que possui inclusive integrantes que não fazem mais parte da diretoria.

Essa vitória é, por que não, de toda a torcida do Flamengo.

Acho curioso, presidente, o senhor não ter tempo para participar ativamente do dia a dia do futebol do clube. 

Suas opiniões sobre o que ocorre no Ninho do Urubu são sempre embasadas nas informações de "quem acompanha" os treinos.

Nem nos momentos mais agudos de crise, como este que vivenciamos agora, o senhor ou o vice-presidente se dispõem a ir com assiduidade ao Ninho do Urubu.

Mas essa falta de tempo não lhe impedirá, presidente, de passar mais de trinta dias longe do Flamengo.

Sim, mais de trinta dias, pois é evidente que uma tarefa como a de chefe de delegação da seleção brasileira em competição oficial exige que se dispense bastante atenção e dedicação muito antes do início do evento.

Considerando que o Campeonato Brasileiro não será suspenso durante a Copa América, pergunto-lhe, presidente, se o senhor acha razoável e benéfico que o Flamengo permaneça durante tanto tempo sem a sua maior autoridade institucional?

É sempre oportuno lembrar que o regime previsto estatutariamente no Flamengo é presidencialista.

Pode existir o Conselho Diretor, o Conselho de Notáveis ou o Conselho do Rei. Não importa: a última decisão é do presidente.

Não foi outra a razão da ruptura que conduziu à criação da Chapa Verde: o senhor tomou uma decisão contrariamente ao que foi decidido pelo grupo, qual seja, a de comparecer pessoalmente ao Arbitral da Ferj, ocasião em que foi ofendido pelo Rubinho. A decisão do núcleo político era que o presidente do clube não deveria ir, mas o senhor resolveu ignorar a vontade da maioria e foi assim mesmo. Resultado: a saída do Bap da diretoria e o início do processo de formação de uma Chapa dissidente.

Aliás, pensando bem, diante das suas recentes declarações e atos, talvez seja até melhor para o Flamengo a sua ausência. 

Presidente, embora eu não faça parte de nenhum Conselho, tomarei a liberdade de, muito humildemente, dar-lhe um:

Ou o senhor reconsidera essa decisão estúpida;

Ou o senhor renuncia ao mandato de presidente do Clube de Regatas do Flamengo.

As duas representações almejadas pelo senhor: a de lambe botas da CBF e a de presidente do Flamengo não podem coexistir, são incompatíveis, são como pólvora e fogo: causam danos e, não tenha dúvida, eles serão causados à sua gestão e à sua imagem.

Se o senhor, por pura vaidade e orgulho, quer jogar sua imagem no esgoto, que o faça à sua conta e risco, mas deixe o Flamengo fora disso.

A CBF, cujo presidente está impossibilitado de sair do Brasil sob pena de ser preso, está usando do senhor e do Flamengo para associar-se a quem, após três anos e meio de muitos sacrifícios, recuperou a sua credibilidade. Que a CBF faça por onde e lute para recuperar a sua, mas não tem cabimento algum o Flamengo conferir a sua honorabilidade a eles.

E qual o ganho político advindo de uma aliança como essa? Estamos falando, no caso da CBF, de gente que não vale o que assina.

Alguém realmente acha que cessarão os roubos e artimanhas contra o clube apenas porque o ególatra presidente do Flamengo resolveu, sem consultar ninguém, em decisão isolada, aceitar convite para ser chefe de delegação?

Trata-se de um ato reprovável e inoportuno, que contraria frontalmente todos os princípios que nortearam a gestão.

A imagem do Flamengo não pode ser maculada por um ato despropositado do seu presidente atual.

Não é algo que honre a tradição de nomes como José Bastos Padilha e Gilberto Cardoso (pai).

Irmãos rubro-negros, vivemos tempos difíceis. 

Após tantas humilhações dentro de campo, nunca poderíamos imaginar que a maior delas viria fora dele, e de quem deveria, antes de todos, zelar pelos interesses do nosso tão amado Clube de Regatas do Flamengo.

Se alguém dissesse na noite de quarta-feira, após  mais uma derrota lamentável e apática do time, que no dia seguinte o presidente seria anunciado como chefe de delegação da CBF, com direito a foto ao lado do Gilmar Rinaldi e do Dunga, ninguém acreditaria. Ninguém.

Se eu pudesse definir em duas palavras o sentimento que sinto hoje em relação ao futebol do clube e ao presidente Eduardo Bandeira de Mello, eu diria:

Tristeza e decepção.

Fonte: Buteco do Flamengo

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