No tabuleiro de xadrez da Gávea, as peças se mexem de acordo com os resultados em campo. Em sua pior crise desde que assumiu a presidência do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello viu sua base de apoio rachar.
Mergulhado em problemas, tem de contornar insatisfações, além de domar os egos de seus mais importantes colaboradores. A urgência de uma ampla reforma no departamento de futebol fará com que Bandeira dê um passo atrás no discurso de modernização, abrindo espaço a dirigentes amadores e esvaziando um pouco os poderes da área executiva do futebol. O “pai” da mudança será Flávio Godinho, vice de futebol e homem indicado pelo presidente para a missão.
Não bastasse o caos no clube, Bandeira ainda aceitou o convite para chefiar a delegação da seleção na Copa América. Em seu lugar, o vice Maurício Gomes de Mattos assumirá. Ironicamente, foi apelidado de “Temer”, em referência ao presidente em exercício. A política ferve na Gávea. Qualquer semelhança com Brasília não é mera coincidência.
Confira as peças do tabuleiro rubro-negro:
Eduardo Bandeira de Mello, presidente
Presidente reeleito, acompanha de perto o futebol, mas não exerce o poder que o estatuto lhe concede, o que na oposição lhe rendeu o apelido de Banana. Diversas de suas decisões perdem força em meio ao colegiado de vice-presidentes do Conselho Diretor. Entre elas, a manutenção do atual trabalho no futebol, classificado por ele como “excelente”. Pressionado, isolou-se e foi criticado até por seu grupo político, o SóFla, por ter aceitado chefiar a delegação da seleção. Os mesmos apoiadores ainda querem mudanças urgentes no futebol.
Flávio Godinho, vice de futebol
Um dos principais apoiadores e financiadores da reeleição de Bandeira de Mello, Flávio Godinho é o vice de futebol da atual gestão e recebeu carta branca do presidente para reformular o departamento. Tido como figura pouco presente no dia a dia, mantém um relacionamento apenas cordial com Rodrigo Caetano. É favorável à queda do executivo, mas seu cargo também está ameaçado, já que é visto com maus olhos por integrantes do Conselho Diretor. A seu favor, pesa a capacidade de diálogo com diversas correntes do clube.
Fred Luz, diretor geral
Considerado o presidente de fato, é quem toma as decisões nos bastidores — não apenas no futebol, mas também nas questões referentes a programa de sócios, contratações e estádios. Teve participação direta no planejamento de viagens, que vem castigando o time e irritou Muricy Ramalho e jogadores. Chegou ao clube levado pelo ex-vice de marketing Luiz Eduardo Baptista, ajudou na captação de patrocinadores no primeiro período da atual gestão, e ganhou ainda mais força. Mas é acusado de não mostrar a cara em momentos de crise.
Rodrigo Caetano, diretor executivo
Contratado em dezembro de 2014, o executivo chegou com a missão de profissionalizar o departamento de futebol. Algumas contratações equivocadas e o mau desempenho da equipe neste período minaram seu prestígio no clube. Assim, Caetano se tornou um dos alvos preferidos daqueles que exigem mudanças no futebol. A relação ruim com Flávio Godinho dificulta o seu trabalho, que perde espaço progressivo dada a interferência de muitos dirigentes ditos amadores no cotidiano do futebol rubro-negro. É a bola da vez para sair.
Muricy Ramalho, técnico
O técnico é peça-chave neste processo de reformulação, já que algumas mudanças dependerão de sua permanência. Fará hoje novos exames cardíacos em São Paulo, para ter noção sobre a continuidade de seu trabalho no clube. Proibiu Rodrigo Caetano de participar dos assuntos de campo, com o respaldo do vice de futebol, Flávio Godinho — que o contratou sem ao menos consultar o executivo. O treinador teve carta branca para indicar reforços e até poupar jogadores. Os péssimos resultados da equipe e falta de um padrão de jogo caem em sua conta.
Maurício Gomes de Mattos, vice
O vice-presidente é uma ameaça a Bandeira, pois tem a intenção de se candidatar em 2018. Seu grupo político apoiou a reeleição do mandatário, mas quer uma participação no futebol. Em caso de viagem de Bandeira com a CBF, assumirá a cadeira. Por isso, é chamado na Gávea de Maurício “Temer” de Mattos, em referência a Michel Temer.
Plínio Serpa Pinto, vice
Vice-presidente de gabinete, ocupa a função de braço-direito de Flávio Godinho. Dá todo o suporte ao vice de futebol em questões de negociações, por ser mais experiente. E ainda abre canais com o ex-presidente Kleber Leite, que se coloca como um conselheiro à distância da atual gestão. Aparece só em momentos de crise.
Rafael Strauch, vice
Vice de Fla-Gávea, o jovem articulador da eleição de Bandeira é um dos cabeças do grupo político SóFla, e cotado para vir como candidato em 2018. O grupo entende que deve ter um nome no futebol e Strauch tenta se aproximar. O vice viajou para Porto Alegre com Bandeira para o jogo contra o Grêmio. Já quase brigou com o vice-geral.
Fernando Gonçalves, consultor
Oficialmente, é responsável pelo setor de psicologia. Apesar disso, o ex-diretor da Traffic atua como consultor para questões de mercado. Tem interferência no trabalho de Rodrigo Caetano, que o vê como concorrente no dia a dia. Na prática, Fernando Gonçalves se transformou em uma espécie de conselheiro do diretor-geral Fred Luz.
Marcos Braz, ex-vice
Nome preferido da “ala amadora” para assumir a vice-presidência de futebol (cargo que ocupou em 2009 no hexacampeonato), o atual vice do Conselho de Administração é nome indicado pelo vice Maurício Gomes de Mattos. Tem apelo entre membros de torcidas organizadas. Seu retorno foi pedido em uma pichação nos muros da Gávea.
Fonte: Extra
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