O futebol rubro-negro está em meio ao caos. Os erros são galopantes. E parecem ser mais estruturais do que circunstanciais. Muricy Ramalho, a bola da vez, não conseguiu dar padrão tático ao time, com insistência até mesmo desnecessária em um sistema que não rendia. Mas antes dele Jorginho, Mano Menezes, Ney Franco, Vanderlei Luxemburgo, Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira, também fracassaram na gestão Bandeira de Mello. No Flamengo dos últimos tempos, a impressão é que ganhar, empatar e perder têm o mesmo peso, a mesma medida. Incapazes de provocar um sentimento. Uma completa inércia. Na travessia até a recuperação financeira, a maior parte da torcida rubro-negra, tradicionalmente exigente, aceitou o acordo. O futuro seria rubro-negro. Está longe de ser.
Os investimentos no departamento de futebol do clube aumentaram. A dívida reduziu. O salários, ao que consta, estão em dia. Mas nem por isso a engrenagem funciona. A estrutura parece confusa. O próprio presidente Bandeira de Mello e Fred Luz, diretor geral do clube, figuram como eminências pardas. Abaixo deles, o diretor de futebol, Rodrigo Caetano, chegou à Gávea com os dois trabalhos anteriores sem grande sucesso, o rebaixamento com o Fluminense em 2013 e o difícil acesso do Vasco à Série A em 2014. Embora por vezes seu trabalho pareça emperrado por forças superiores, cabe principalmente a ele, junto do vice de futebol, Flávio Godinho, a montagem do elenco em sintonia com o técnico e o planejamento para os sucessos da temporada. Mas o futebol rubro-negro está no caos.
A verba disponível é invejável. O orçamento do clube apontava gastos de R$ 182 milhões com o departamento de futebol em 2016. Suficiente, sim, para promover o ano dourado rubro-negro como amplamente ventilado pelos corredores da Gávea naquele fim de 2012. Com organização, compromisso, planejamento. Parecem faltar todos ingredientes. O futebol do Flamengo mal sabia, a dez dias da estreia, onde mandaria seus jogos no Campeonato Brasileiro, sem o Maracanã até pelo menos outubro. O futebol do Flamengo ignorou a incrível deficiência técnica de seus zagueiros e a antipatia da torcida por Wallace, o que resultou no tragicômico episódio de abandono do zagueiro às vésperas da estreia no Brasileiro. O elenco permanece com apenas dois defensores.
O futebol do Flamengo contratou um goleiro por um punhado de milhões para ocupar o banco de reservas até mesmo durante os jogos do Campeonato Carioca. O futebol do Flamengo observou o técnico Muricy Ramalho escalar um time misto na semifinal da Primeira Liga, competição xodó da diretoria, e ser eliminado. O futebol do Flamengo permitiu ao time chegar ao quinto mês do ano sem padrão tático bem definido, apresentações minimamente convincentes. O futebol do Flamengo culminou na terceira eliminação consecutiva em cinco meses. O futebol do Flamengo permitiu-se adentrar em um caos.
Até alguns vorazes defensores de Bandeira de Mello e sua equipe já admitem a dificuldade ímpar da gestão de tocar o futebol com competência à altura dos grandes do Brasil. Guerrero, contratado a peso de ouro, pouco rende, muito reclama, muito recebe cartões, sem solução aparente. Sheik, já em declínio desde o fim de 2015, teve o contrato renovado. Fernandinho, encostado no Grêmio, chegou ao clube como reforço. A torcida se distancia. Depois da irritação, o desânimo. A frustração. Recuperado financeiramente, exemplo de administração, nota no New York Times, o Flamengo não consegue espelhar a gestão no futebol, seu carro-chefe. Com o Brasileiro e a opaca Copa Sul-Americana pela frente, o clima de fim de festa chegou à Gávea em maio. Entre tropeços, o futebol do Flamengo mergulhou no caos e não cumpriu a promessa. Tornou o dourado ano de 2016 uma mera miragem no horizonte rubro-negro.
Fonte: Esporte Final
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