Francês, com ascendência argelina, morador do bairro de Nice e formado na base do Cannes. As credenciais de Rayane Yanice Belaid, de 19 anos, lembram as do ídolo Zinedine Zidane, astro da seleção de seu país e ídolo da comunidade internacional do futebol. Entre um e outro, há um abismo do tamanho dos sonhos do garoto que treina há três meses no Ninho do Urubu. A apenas dois meses do fim de contrato com o Flamengo - ele assinou contrato dia 8 e dia 20 de abril, registrado -, o jogador luta para ganhar ritmo no futebol brasileiro e, principalmente, peso para competir na base rubro-negra.
Rayane tem 1,74m e chegou ao Rio com 60 kg, o que levou o treinador Zé Ricardo, hoje no profissional, e o departamento de futebol de base do Flamengo a prepararem programa especial para que o jogador ganhasse peso. O procedimento é natural com diversos garotos que vão treinar no clube. Ele já ganhou três quilos e deve chegar até 65 kg ou 66 kg. Meia-atacante muito veloz, Rayane foi camisa 10 na base do Cannes e sentiu a diferença no tipo de jogo brasileiro e, claro, no clima da cidade do Rio.
Arranhando português, o garoto já aprendeu - é, evidente - alguns palavrões e até arriscou cantar músicas de arquibancada do Flamengo. O sonho é igual ao de muitos meninos pobres brasileiros: chegar ao profissional e seguir os passos dos ídolos Neymar e Cristiano Ronaldo.
- Acho que minhas características são velocidade, muito boa técnica e também que jogo com as duas pernas. Sou ambidestro - define-se o garoto.
O coordenador da base do Flamengo, Carlos Noval, lembra que o contrato do francês pode ser estendido, que está previsto, inclusive, isto no acordo com seus representantes. Um deles é Nadir Bosch, um vitorioso ex-atleta olímpico francês, também de origens argelinas. A vinda do francês é pontapé inicial - mas que ainda não saiu do lugar - na parceria do Flamengo com o Sedan, investimento da terceira divisão francesa do megaempresário Fahad Bin Faisal Al Saud. Morando próximo do Ninho do Urubu, nos tempos livres ele encontra o amigo e empresário Nadir em Ipanema para não ficar sozinho no isolado CT rubro-negro.
O GloboEsporte.com acompanhou um dia de treinamento de Rayane no Ninho do Urubu. Tímido, tentou arrancadas, passes de efeito e assistências. Recebeu elogios de Zé Ricardo, à época ainda treinador do sub-20, e contou suas primeiras impressões do futebol brasileiro. No meio da gravação, uma brincadeira de um motoqueiro arrancou risadas.
- - Essa moleza vai acabar, hein - gritou uma pessoa para amigos na praia.
Sem entender nada, Rayane riu e comentou as diferenças com a França. Para Zé Ricardo, a formação também se reflete ainda no seu futebol. Mas nada que a molecada da base do Flamengo não consiga reverter, com entrosamento dentro e fora dos campos.
- O povo brasileiro, ainda mais o carioca, é muito falante, muito afetivo. Tem bastante brincadeira quando não estão treinando. Isso ele sentiu um pouco porque, talvez, não seja realidade muito próxima que ele vivia na França. A molecada chega cedo, fica no vestiário falando e eles acabam passando um pouquinho da nossa cultura, ainda mais do futebol, que é mais exacerbado, vamos dizer assim. Isso ajuda para ele se soltar um pouco mais e a gente espera que ele possa ajudar a gente - contou o atual treinador interino do Flamengo.
Fonte: GE
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