18/05/2016

Alegria, concentração e cão intruso: Os bastidores da final do Brasileiro


O Rio Preto levou a melhor no jogo de ida da final do Campeonato Brasileiro ao vencer o Flamengo por 1 a 0, na última terça, no estádio Los Larios, em Duque de Caxias. Mas uma partida vai muito além dos 90 minutos. Ela começa no momento em que o time deixa a concentração e inicia a preparação para o jogo. Os bastidores deste duelo tiveram alegria de sobra, seriedade quando foi necessário, palavras de incentivo e até animal dentro do vestiário

Acostumadas a jogarem na Gávea, na sede do Flamengo, as rubro-negras chegaram cedo à Duque de Caxias. A partida seria realizada somente às 19h, mas antes mesmo das 16h, o ônibus do Fla já estava em Los Larios. Do lado de fora do vestiário, uma cantoria animada invadia os ouvidos de quem passava. Pagode, sertanejo e até axé faziam parte do repertório. Mais tarde, quando a equipe do Globoesporte.com teve acesso ao local, Maurine, camisa 10 do Fla, explicou que a animação é recorrente nas preparações do grupo.


- Não é só porque é uma final. Desde o primeiro jogo, até nos treinos, as meninas sempre foram assim. Isso faz com que a gente entre no campo ligada a 220 (volts) para transferir essa alegria lá dentro e conseguir sair com um bom resultado – disse, mostrando um pequeno equipamento de som, com microfone, usado por elas. 

Pouco tempo depois, foi a vez das meninas do Jacaré chegarem. Por volta das 16h30, elas desembarcaram e seguiram direto para o vestiário. Mais retraídas, conversavam apenas entre si, talvez buscando uma forma de não perder a concentração diante de um momento tão importante para o clube paulista – a equipe foi campeã da competição na temporada passada e busca o bi este ano. 

Cerca de uma hora antes da partida, os dois times foram a campo para aquecimento. Mais descontraídas, as jovens do Rio Preto chegaram a propor um jogo entre si. A brincadeira consistia em uma das jogadoras cabecear a bola para uma fileira de meninas, que deveriam devolvê-la, também de cabeça, sem deixá-la cair. Quando o trajeto foi cumprido, ida e volta, elas comemoraram. 


As rubro-negras fizeram um trabalho físico observadas pela comissão técnica. Na volta ao vestiário, deixaram as brincadeiras de lado e entoaram palavras de apoio. Além de Tânia Maranhão, a mais experiente da equipe com 41 anos, Maurine também falou bastante e pediu foco total no jogo. Ambas deixaram claro também que, cada partida, é uma nova luta para provar que o futebol feminino é uma modalidade que precisa de mais atenção. 

- Pode-se manter o futebol feminino aqui (no Flamengo). Vamos entrar e dar o melhor. Coloque o coração na chuteira. Jogue por quem está torcendo por vocês, pela família que a gente fica longe – pediu a camisa 10. 


Originalmente atletas da Marinha – o Fla travou uma parceria com os militares que é renovada a cada com ano -, elas ainda entoaram o grito de guerra do grupo: “uma por todas e todas por uma, 1, 2, 3, ô ô ô Mengo, Marinha, Brasil!”. Foi nesse instante que um cachorro entrou no vestiário e, sem que as meninas percebessem, ficou ali por alguns segundos assistindo ao momento de grande concentração das rubro-negras. Ao fim, todos de abraçaram e falaram palavras de incentivo. 

O Rio Preto foi a primeira equipe a aparecer em campo para o duelo. Teve que aguardar cerca de três minutos para as rubro-negras aparecerem. Durante o hino nacional, as flamenguistas bateram continência, como é de costume para membros das forças militares brasileiras. 

A torcida do Fla parecia não desanimar. Mesmo com o gol levado aos 31 do primeiro tempo, as meninas foram incentivadas a todo momento pelos presentes, que para uma noite de terça-feira com chuva, compareceram em bom número ao estádio. 

No lado destinado às paulistas, cerca de dez pessoas torciam para um triunfo das visitantes. A lateral Mariana, que é carioca, foi prestigiada por duas tias da arquibancada. Em um dos cartazes levados pela família era possível ler “Rio Preto e Cidade de Deus”. 

- É muito legal ter esse apoio, ainda mais aqui. Meu coração nem sei como está – definiu ainda antes da bola rolar. 

Ao fim do confronto, com a vantagem assegurada, as meninas do Jacaré correram para formar um grande círculo no gramado. Ficaram de joelhos e foi quando elas realmente extravasaram. Após gritos de comemoração, rezaram e começaram a pensar no jogo de volta. 


- Estamos em busca do bi. Humildade sempre – enfatizou Suzana ao lado de Jéssica, responsável pelo único gol da partida.

Do outro lado, apesar da derrota, as flamenguistas foram muito assediadas. A camisa 10 chegou a tirar selfies através da grade na beira do gramado. Ao sair de campo, garantiu que elas vão jogar com a mesma alegria na próxima sexta-feira, quando as duas equipes voltam a se enfrentar, desta vez no estádio Anísio Haddad, em São José do Rio Preto, às 19h (de Brasília). 

- A gente foi muito bem, atacou o tempo inteiro. É detalhe. É uma decisão que a gente não pode desligar em nenhum momento e no momento que desligamos, tomamos o gol. Agora é erguer a cabeça e ver o que temos que melhorar. Ainda não tem nada perdido. Temos um time com muitas condições. Todo vencedor às vezes perde. Vamos tentar reverter isso com a mesma alegria de sempre – disse Maurine. 

Para faturar o segundo título consecutivo do Brasileirão feminino, o Jacaré precisa somente de um empate. O Fla, por sua vez, luta por uma vitória por dois gols de diferença. Em caso de triunfo por um gol, a partida vai para os pênaltis. O jogo será transmitido pelo SporTV 3 e terá acompanhamento do Globoesporte.com em Tempo Real.


Fonte: GE

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