09/03/2016

Tamanho não é documento.


Não é de hoje que os rankings envolvendo projetos de sócio-torcedor se tornaram uma coqueluche. Fogueira sobre a qual se jogou combustível quando a Ambev, na figura do seu “Movimento por um Futebol Melhor”, passou a disponibilizar seu Torcedômetro. Desde então, a discussão do “meu é maior do que o seu” tomou conta das mesas de bares – reais ou virtuais.
As atualizações mais sofisticadas incluem também os europeus – modo de se auferir os clubes com maior quantidade de sócios do mundo. A última publicação a fazê-lo foi a Máquina do Esporte, a quem pedimos licença para reproduzir o ranking na íntegra:

Mas também não é de hoje que o Blog Teoria dos Jogos alerta para o fato de, no tocante aos projetos associativos, tamanho não ser documento. Foi o que concluímos há dez meses, através da coluna “Sócio-Torcedor: quem fatura mais? Uma análise definitiva”. À época, dissemos que o ticket médio do projeto Nação Rubro-Negra, três vezes superior ao Fiel Torcedor, tornavam necessários 150 mil corintianos para equivalerem ao que o Flamengo arrecadava*. Verdadeiramente, a ótica mais importante.
*Proporção que começa a se aproximar, dados os 132.483 sócios alcançados pelo Corinthians, contra 60.143 do Flamengo (08/03/2016)
Trata-se de uma questão cuja pertinência é comprovada na comparação internacional. Foi o que fez o amigo Benny Kessel, do Blog Balanço da Bola, em coluna publicada no site Mundo Rubro Negro. Em análise sobre o Relatório de Gestão 2014/2015 dos portugueses do Benfica (antigos líderes do “ranking mundial”, atuais terceiros colocados), o colunista descobriu os seguintes elementos:
“– Do total de valores pagos pelos sócios-torcedores do Benfica, apenas 25% são transferidos para o clube;
 - O clube obteve como rendimento 2,6 milhões de euros líquidos;
– A receita com sócios-torcedores representa 3% das receitas recorrentes com futebol (não considera venda de direito de atletas).
– Pelas demonstrações contábeis do Flamengo em 2014, do montante arrecadado com STs (R$ 30,4 milhões), o clube fica com R$ 21,9 milhões, ou seja, 75% do total, repassando 25% para a operadora do programa. No Benfica a relação é inversa, 75% para a operadora, 25% para o clube;
– Com o seu programa em 2014, o Flamengo obteve R$ 21,9 milhões de reais líquidos, valor que, em 31/12/2014 correspondia a 6,8 milhões de euros, quase 3 vezes mais do que o obtido pelo Benfica;
– As receitas líquidas do Flamengo representaram 7,7% do total das receitas recorrentes com futebol em 2014, 10,7% se considerarmos as receitas brutas. Bem mais do que os 3% apurados pelo Benfica.”
De onde concluiu:
“Pelo menos em lucros obtidos com o programa, o Benfica não tem muito a ensinar ao Flamengo.”
Nem ao Flamengo, nem a muitos dos nossos gigantes – como Corinthians, Palmeiras, Internacional, Grêmio e Cruzeiro. Todos capitalizando com seus projetos em níveis inéditos, independente da diferença no preço médio ou nos benefícios oferecidos por um ou outro.
Por tudo isto – e apesar dos inúmeros pesares – é pertinente que tratemos nosso recorrente complexo de vira-latas. Há, por aqui, profissionais sérios, capacitados e iniciativas de marketing de sucesso. O desafio é difundi-las a todos os clubes, bem como torná-las sustentáveis. Fugindo das intempéries típicas do universo futebol, como o sucesso apenas nas boas fases.
Um grande abraço e saudações!


Fonte: Teoria dos Jogos

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