25/05/2016

A angústia de Muricy


Quantas vezes você já ouviu a história do jogador de futebol que não consegue encerrar a carreira? O drama para ele entender que o fim chegou, que seu estado físico já não permite que ele prossiga, representado pelo número de lesões, pelo desgaste e dores insanas após cada partida e, mais humilhante do que tudo, pelo jovem cheio de vigor mas nem tanto talento, que passa por ele em campo como se passasse por um vovô de andador.
Depois de viver uma vida inteira dentro de um universo tão rico em histórias, emoções, amizades (e, claro, dinheiro e fama) é natural e compreensível a dificuldade extrema em encarar o momento de se sentar no sofá de casa e admitir: acabou.
A maioria dos profissionais do futebol chega a este momento sofrendo. Mas uma minúscula parcela tem um atenuante muito poderoso, o de ter conseguido ganhar uma boa grana na carreira. Para esses, a dor que fica é a de abrir mão de parte de sua vida. Para outros, que nunca conseguiram fazer o pé-de-meia, é o drama do adeus somado ao absoluto caminho escuro que será o futuro.
Muricy Ramalho aguarda ansioso o resultado de exames médicos que vão determinar se ele poderá ou não permanecer no mundo que ele vive há pelo menos 50 anos. Fragilizado por problemas físicos há algum tempo, ele não tem demonstrado a energia que o fez vencer o Brasileiro quatro vezes e a Libertadores uma, para ficar só nos títulos mais importantes.
– Ah, mas com o que ele tem na conta eu ia cuidar da minha vida feliz… já teria largado tudo pra ficar pescando em Ibiúna (cidade do interior de São Paulo onde o treinador tem um sítio).”
Ou então: – Ele não vai abrir mão do salário que ganha!, vão dizer alguns.
O problema é que não é dinheiro o que move o treinador neste momento. Seu drama é abrir mão da paixão de sua vida. Seu medo deve ser o de um dia na sua casa confortável caminhar de chinelo e bermuda até a sala, ligar a TV e lá estar passando um jogo de futebol com estádio lotado. E ele imaginar que um dia fez parte de tudo aquilo.
Se você tem um ofício que seja uma paixão, você também teria a mesma angústia que Muricy está vivendo.
Fonte: Blog do Tironi

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