09/03/2016

Questão de tempo.

Promoção de jovens do Flamengo no time principal coincide com chegada de Muricy Ramalho

Muricy Ramalho não pode reclamar da sorte. Se for confirmada sua projeção de que a atual geração de jovens do Flamengo é “muito boa”, ele será um privilegiado. A promoção dessa “molecada”, como ele disse com carinho, que começa a aparecer no time principal, coincide com sua chegada. Isso, depois de muito tempo que o Flamengo passou sem revelar nenhum jogador de categoria para ele e para o futebol brasileiro.

A palavra de Muricy é importante, é significativa, mas assim mesmo prefiro esperar mais um pouco (até o fim do ano, quem sabe?) para celebrar essa nova geração rubro-negra.

Novas gerações de jogadores — sobretudo no caso do Flamengo, da Gávea ou do Ninho do Urubu — são sempre festejadas nos clubes, nas torcidas e na mídia em geral. Tanto que essa mídia adotou um dos termos mais cafonas que já foram empregados no futebol para exaltar uma jovem revelação: agora, todas as promessas que surgem na base são chamadas de “joia” por grande parte da imprensa. Pior do que esse chavão é impossível.

Lembram-se das gerações e de alguns nomes que ganharam relevo e elogios nos últimos tempos do Flamengo? Diego Maurício, Negueba, Erick Flores, Thomas, Adryan, Luiz Antônio, Muralha e por aí vai. Hoje, ou estão mesmo desaparecidos ou em clubes de menor porte.

Agora, Felipe Vizeu, Thiago Santos e Léo Duarte, por exemplo, já estão pintando em boa forma no time de cima, estão sendo elogiados por Muricy, mas não custa nada esperarmos mais um pouco para fazer um juízo melhor. Questão de tempo.

Caso bem diferente é o de Ederson, que chegou ao clube em 2015, com 30 anos de idade e, infelizmente, com muitas contusões que prejudicaram sua carreira. Desde o início do ano vem sendo meticulosamente preparado pelo Flamengo, com os mais modernos recursos, para se firmar no time, a princípio como reserva do argentino Mancuello, que está em tratamento.

No papel — prestem atenção, por favor, eu escrevi “no papel" — Cuéllar, Willian Arão e Mancuello (ou Ederson) formam um meio de campo como o Flamengo não tem há tempos. Mais um sinal de sorte do Muricy. Falta ver como eles se sairão na passagem do papel para o campo.

O que se pode perceber, por enquanto, é que o treinador, depois do seu período sabático no ano passado, parece ter trocado aquele estilo que ficou conhecido como “muricybol”, com muita bola parada e cruzamentos sobre a área, por um futebol mais de acordo com as exigências, digamos, modernas. Temos visto no Flamengo mais troca de passes, mais bola no chão, mais compactação e outras coisas. A tendência é melhorar, e esta noite teremos mais um teste, contra o Figueirense, pela já famosa Primeira Liga.

Mancha no futebol

A arbitragem brasileira é ruim, seja a das federações estaduais, seja a da CBF. No ano passado, até que tivemos uma medida benéfica desta última, instruindo os árbitros a punirem com cartão amarelo os jogadores que os cercassem e reclamassem agressivamente, a todo momento, interrompendo o jogo e diminuindo o tempo de bola rolando.

Isso deu certo. Funcionou. Mas um dos problemas que persistem é o absoluto descaso, a absoluta conivência dos mesmos árbitros com a violência praticada por muitos jogadores. O exemplo da última partida entre Grêmio e Internacional, pelo Campeonato Gaúcho, chega a ser revoltante para quem (ainda) quer ver em campo um esporte limpo, decente, bonito, praticado sem cafajestagem.

A cotovelada claramente proposital de William, do Inter, que causou duas fraturas no rosto de Bolaños, do Grêmio, e que vai afastá-lo dos campos no mínimo por um mês, não mereceu nenhuma punição do árbitro Anderson Daronco. Ele sequer marcou falta, num lance que merecia expulsão sumária (depois, William foi denunciado pela Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul).

Pior ainda foi o presidente do Inter, Vitorio Piffero, que teve o desplante de dizer que o “gesto não foi intencional, foi um caso fortuito que acontece no futebol”. A declaração mostra somente que o cartola não tem a menor capacidade para interpretar o que se passa dentro de campo.

Mas está acontecendo, sim, no futebol, particularmente no futebol brasileiro e sul-americano, que hoje é disputado, não apenas com os pés, mas também com os braços e as mãos. São cada vez mais corriqueiras nos nossos jogos as cotoveladas ou braçadas no corpo do adversário, ou mesmo no rosto, como foi o caso do William, uma verdadeira agressão. E não se vê nenhuma medida da cartolagem ou da arbitragem para acabar com esse vício que enfeia, vulgariza e desmerece o futebol como esporte. Mas quem é, neste universo manchado do futebol, que está preocupado com isso?




Fonte: Fernando Calazans / O Globo



0 comentários:

Postar um comentário